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Mostrando postagens de junho, 2024

Razões desalmadas

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As palavras são duras, os olhos, injetados. Pessoalmente ou por meio de mensagens eletrônicas. O discurso, belicoso ou com notas de deboche. É sempre assim. Ele (meu amigo) começa a despejar sobre mim toneladas de notícias falsas, enviesadas, maldosas. O tom é raivoso, o dedo, acusador. Se eu concordo com algumas daquelas "verdades" ou não, tão pouco interessa. Rapidamente ele risca uma linha no chão com o mesmo dedo acusador, e a coloca entre mim e ele. Entre as suas razões e os meus questionamentos. E de nada adiantam a história verdadeira, refazer o caminho dos fatos, ou desmentir aquilo à que fui exposto. Não se trata mais do que é verdadeiro ou falso, se trata sobre se sentir confortável com aquilo que se tem ao alcance das mãos. O maior desafio (o real desafio) da raça humana nesse século é derrubar as barreiras que nos impedem de nos comunicar. É hora de desarmar as razões e abrir os ouvidos. Escutar com a alma. Marcel

Aquele lugar

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Eu tinha isso muito vivo em mim. Fazia parte do meu dia. Essa vontade de falar para os outros (amigos, conhecidos) o que eu faço, o que eu penso.  Um livro novo? Lá ia eu correndo contar para alguém. Uma nova série? Lá estava eu no meio dos meus amigos contando o último episódio... Sempre com muita empolgação, e sempre na minha cabeça. É disso que falo: todas essas conversas eram imaginadas. A empolgação que percorria minhas veias era me imaginar no meio das outras pessoas contando aquilo (o "novo") que eu estava experimentando no momento. Foram tantos episódios, que hoje não consigo lembrar de um único exemplo. Tantos e tantos anos conversando dentro da minha própria cabeça. Hoje analiso da seguinte forma: aquele era um lugar comum das minhas emoções. Um lugar tão comum e confortável que identifico esse "espaço" como ocupação da minha ansiedade. E ela (minha ansiedade) sabia muito bem como me levar para esse lugar, e lá eu me perdia em horas e mais horas em diálogo...

Escrever (2)

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Minha cabeça se confunde  São tantos estímulos  Comprar, consumir, gastar, vestir, mudar, ouvir, ver, odiar. São tantas sensações Vazio, insegurança, incerteza, solidão, tristeza, medo. E a principal: a de nunca estar satisfeito Então, naquele momento, escrevo Escrever muitas vezes é a única forma de entender o que estou sentindo Escrever é colocar no papel os pensamentos soltos, os sentimentos desafinados. Escrever é alinhar ideias em palavras, concatenar sílabas e religar-se Escrever é deixar a alma assumir e sumir com as razões que me impedem de sentir Marcel

Reflexões do cotidiano #6

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A gente não quer só netflix e scroll no celular. Nosso corpo e nossa alma pedem outras formas de descansar. Recentemente recebi um amigo da faculdade que mora em outra cidade na minha casa, já somos amigos há muitos anos. E por mais que a gente tenha conversado que nem uns loucos – a ponto de ir dormir todo dia mais tarde por causa disso – eu me senti muito descansada nesses dias com ele. Oscilamos nossa verborragia com silêncios absolutamente confortáveis, com cada um só sendo. Tão bom. E isso tem me feito pensar sobre descansar no outro. Para conseguir atingir esse tipo de descanso precisamos de alguns ingredientes: muita sintonia, geralmente alguns anos de amizade, situações adversas percorridas junto é um bônus, admiração ajuda e é preciso ter vontade de estar junto. Se quiser saber o seu nível de sucesso ao praticar a modalidade de descanso no outro, existe um sinal claro: o silêncio confortável. Nós precisamos normalizar o estar junto fazendo nada. É ótimo encontrar algo para faz...

Sorriso sincero

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Durante anos eu tentei contar piadas. E, com raras ocasiões, sempre me saí muito mal, apesar de insistir nessa cantiga até bem recentemente. Era a minha “forçação de barra”. Tão pessoal, tão minha, tão desnecessária. Eu no fundo me incomodava muito. Restava um gosto metálico na boca e pensamentos conflitantes sobre o motivo de eu ainda (insistir?) me apresentar como contador de piadas. Esse é um dos muitos momentos em que identifico o quanto eu nunca me “encaixei” nas caixas que todos devem caber. Confuso? Vamos separar algumas coisas. Primeiramente, nunca fui uma pessoa engraçada. Essa é a análise rápida que faço . Contar piadas não é algo pelo qual serei lembrado. Por outro lado, marco muitos pontos ao “embarcar nas histórias.” O que isso significa? Fazer pontuações, lançar observações além do lugar comum, dar respostas inesperadas em momentos mais sérios ou tensos, brincar com os fatos, fazer adições, rever pontos. Nisso eu sempre me saio muito bem, a maior parte do tempo. O sarcasm...

Distante do real

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Esse é um episódio que lembro bem. Em algum momento, o meu velho eu, em um corpo mais novo, precisou se dirigir ao caixa eletrônico. A melhor opção próxima era o supermercado. Havia dois aparelhos, cada um com sua fila. Um tormento. Apesar de, já naquela época, e por influência de um livro de auto-ajuda, eu apreciava esses momentos para me bloquear do mau humor dos outros que odiavam esperar. Coisa que levo comigo até os dias de hoje. Nesse dia em particular, não recordo da fila se estender além do suportável. Tudo transcorria bem. Lembro de sacar o meu dinheiro e pegar um extrato impresso que precisava conferir. Nesse momento, me afastei para o lado e um senhor, no alto dos seus mais de 70 anos de vivência, veio ao meu ouvido soprar um impaciente: “Já terminou?” Lembro de olhar para ele surpreso por estar afastado do caixa eletrônico e pela falta de educação, paciência ou que quer que seja que não se espera de alguém com cabelos brancos e movimentos comedidos. Raiva. Fiquei mastigando...

A jornada interior - parte II

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Inspiro. Não muito forte. Não permito que velhos sentimentos se tornem alergia para o meu nariz, e lágrimas para os meus olhos. Lacrimejo. Remexo mais aqui, um pouco ali. Me canso. Sento no chão e cruzo os braços. Me sinto paralisado com coisas além do que posso explicar. Assumo que (me) perdi. Estou às voltas comigo mesmo. Uma ideia velha, o começo de algo. Alguma discussão boba que trouxe para dentro de casa, e agora faz parte de mim. Algum passado inútil amarrotado, uma lata de lixo cheia de ideias amassadas. Alguma bobagem que só ocupa espaço e, como tantas outras, não preenche. Meu olhar se perde no vazio por segundos. Me reconecto. Me percebo no meio daquelas lembranças e caixas. Observo para aqueles cômodos abarrotados de memórias incontáveis, espaçosas, vagas e tão minhas.  Lembranças da minha infância andando de bicicleta com amigos da rua que nunca mais vi novamente. Onde será que estão? O que fazem? Que tipo de pessoas são? Lembranças e mais lembranças. Essas eu deixo e...

A jornada interior - parte I

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Acordei cedo. Despertei do sono e me livrei da falta de vontade me espreguiçando um pouco mais. Abri os olhos e no escuro procurei a primeira luz amiga que poderia me guiar para fora do quarto, o celular. Tomei um banho gelado. Sai do banheiro ainda com pensamentos arrastados sobre minha cama, meu sono recém-negligenciado, a sensação de conforto de estar dormindo, embalado em sonhos que sequer me recordo mais. Quando acordei pela manhã, decidi abrir as janelas do quarto. Abrir as janelas para novas perspectivas, trocar os lençóis, refazer a cama.  Trocar a cama de lugar e tirar o que mais não me parecesse confortável. Quer fosse o travesseiro. Quer fosse o meu interior.  Escolho um cômodo. Varro o chão.  Passo um pano limpo sobre muitas superfícies. Algumas são meras lembranças, outras estão dentro de gavetas e armários. São filmes de amizades, quadros de episódios pintados, retratos de momentos (bons) para carregar no bolso - daqueles que uma rápida olhada devolve o sorr...

Pensamentos soltos em frases amarradas (6)

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 Sempre serão loucos aqueles que dançam aos olhos dos que não escutam a música  

Ana Vilela - Trem-Bala

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Não é sobre ter todas pessoas do mundo pra si É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós É saber se sentir infinito Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar Então fazer valer a pena Cada verso daquele poema sobre acreditar Não é sobre chegares ao topo do mundo e achares que é teu É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu É sobre ser abrigo e também ter morada em outros corações E assim ter amigos contigo em todas as situações A gente não pode ter tudo Qual seria a graça do mundo se fosse assim? Por isso, eu prefiro sorrisos E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar Também não é sobre correr contra o tempo pra ter sempre mais Porque, quando menos se espera, a vida já ficou pra trás Segura teu filho no colo Sorria e abraça os teus pais enquant...