A jornada interior - parte II

Inspiro. Não muito forte. Não permito que velhos sentimentos se tornem alergia para o meu nariz, e lágrimas para os meus olhos. Lacrimejo. Remexo mais aqui, um pouco ali. Me canso. Sento no chão e cruzo os braços. Me sinto paralisado com coisas além do que posso explicar.

Assumo que (me) perdi. Estou às voltas comigo mesmo. Uma ideia velha, o começo de algo. Alguma discussão boba que trouxe para dentro de casa, e agora faz parte de mim. Algum passado inútil amarrotado, uma lata de lixo cheia de ideias amassadas. Alguma bobagem que só ocupa espaço e, como tantas outras, não preenche.

Meu olhar se perde no vazio por segundos.



Me reconecto.

Me percebo no meio daquelas lembranças e caixas.

Observo para aqueles cômodos abarrotados de memórias incontáveis, espaçosas, vagas e tão minhas. 


Lembranças da minha infância andando de bicicleta com amigos da rua que nunca mais vi novamente.

Onde será que estão?

O que fazem?

Que tipo de pessoas são?

Lembranças e mais lembranças.

Essas eu deixo estar. 


Levanto.

Caminho rumo à saída.

Perpasso a sala de estar no passado.

Há um espelho grande que me presenteia com minha imagem irreal.

Há algo de julgador debaixo daquelas sobrancelhas.

Fecho os olhos em busca da maçaneta.

Abro a porta para o presente que me reconheço.

E, finalmente, cruzo os pensamentos que me aprisionavam.


Escrever diz muito sobre mim. Julgamentos, percepções remoídas, velhas ideias, antigas feridas. Escrevo estabelecendo um diálogo comigo mesmo. O mais importante diálogo que conheço. Mas nem sempre fui assim. Por muito tempo eu deixei a minha voz interior se calar. Demorei anos para entender o quanto isso foi ruim, o quanto isso me afastou de mim. Falar sobre mim, me permitiu iniciar uma jornada interior sem volta. A inquieta jornada de conhecer os cantos profundos da minha alma. Indo cada vez mais fundo, em direção a mim mesmo.


A jornada final Marcel

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Emoldurar

Diálogos

Arrependimentos no retrovisor