O Sonho do Rogério


Lembrei de um sonho. E não, não era um sonho meu. Lembrei do sonho de um amigo meu. O nome dele é Rogério. Rogério é um desses caras que a gente conhece na graduação e de cara sente muita afinidade. Éramos novos e eu curtia muito conversar com ele. Rogério era um cara muito falante e por ter vindo de uma cidade grande, comentava o quanto achava irônico (engraçado) ver em uma capital do estado (moro em Rio Branco - Acre) pessoas criando porcos, galinhas, patos, marrecos. Coisa que ele só via no interior do seu estado natal.

Lembrei do sonho que ele compartilhou comigo e com muitas pessoas próximas. O sonho de fazer um jogo de videogame. E não eram apenas palavras, Rogério tinha cadernos e mapas inteiros desenhados. O sonho dele era muito vivo. Ele respirava esse sonho. Lembro de vê-lo várias vezes no laboratório programando e se debruçando sobre manuais e livros. Um belo dia, não o vi mais. Rogério foi embora. Voltou para sua terra, lembro de alguém comentar. Como sou avesso a redes sociais, provavelmente nunca o encontrarei novamente, ou quem sabe um dia eu mude de ideia sobre me conectar mais ao mundo virtual.

Há muitos anos perdi contato com o Rogério. Não sei ele deu luz ao sonho ou não. Hoje seu sonho me veio a lembrança por razões que não sei explicar. Ele é o tipo de cara que gostaria de conversar horas sobre videogame em uma tarde entediante como hoje. E talvez isso seja por sentir falta de conversar com um amigo sobre um assunto que gosto de forma descompromissada, sem pensar na horas, ou na vida mundana. Sair do comum. Sim, Rogério seria um cara bacana para conversar hoje.

O fato é que lembrei da sua empolgação ao falar sobre seu sonho. Havia fogo nos seus olhos. E uma reflexão me levantou da cadeira: Não devemos contar nossos sonhos para todos. Não devemos. Lembro do quanto Rogério era chamado de ridículo ou bobo por outros. E sim, parecia uma loucura lançar um jogo de videogame no interior do Brasil 20 anos atrás. E talvez por isso, me recordo as vezes de vê-lo um pouco desanimado, ou apenas se arrependendo de confiar a muitos o seu sonho, compartilhar a mais secreta das suas paixões.

Afinal, sonhos são bons. E devemos sim alimentar algum objetivo no coração. Mas a triste lição que levo de todas essas lembranças é que os sonhos, por mais maravilhosos que sejam no coração, pertencem a nós. E abrir o coração, ainda será o maior ato de coragem desse mundo. Mais até do que viver nossas mais fantasiosas aventuras.


Marcel

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