Nem mais

Hoje, em um gesto de caridade espontânea, comprei um pacote de bolachas para um pedinte na porta do mercado. Uma mulher, desdentada, roupa suja, maltratada pelo tempo e pela sociedade, me disse (implorou) que estava com fome e me pediu para lhe comprar um ovo. Negociei com ela um pacote de bolachas água e sal e ela ficou satisfeita. Assim que sai do mercado a encontrei e ela falou duas coisas, obrigado e “Deus lhe dê em dobro”.

Eu sempre que escuto isso fico com um misto de emoções dentro de mim. Talvez eu  não saiba o que responder e, no fundo, algumas coisas não precisam ser respondidas. Precisei retornar para casa enquanto refletia no caminho.

Nada é mais infantil e bobo do que desejar mais. Mais livros lidos, mais horas no relógio, mais isso, mais aquilo. Não necessito de mais nada.


E o pouco que tenho, pode ser metade para alguns, não desejo em dobro. Pra mim basta, é suficiente. E não me sinto mal por desejar mais, percebo várias vezes ao longo do dia pensar em algo nesse sentido. Eu vivo em uma sociedade que o mais é sinônimo de muitas coisas, inclusive como assinatura de caráter irretocável ou posição social acima dos demais mortais. Sou bombardeado por horas e mais horas sobre o discurso do mais. O quanto é importante ser mais na sociedade, ganhar mais dinheiro, possuir mais e mais.


E a grande verdade que carrego é: ninguém precisa de mais nada. Infelizmente, para uma grande maioria, o suficiente lhe é tirado, e para alguns, a esperança de um ovo na porta de um mercado pode ser sinônimo de refeição, ou pelo menos calar o estômago por mais algumas horas.

É…

Esse mundo seria outro se todos tivessem o suficiente.

Nem menos, nem mais…



Marcel

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