O calor da paixões
Não lembro a última vez que identifiquei as causas reais de uma emoção repentina. Seria a falta de um espelho melhor? Ou de uma lente mais apurada?
O sentimento familiar veio. Foi quase uma erupção. De repente todo aquele sentimento explodiu no meu peito e se manifestou por todos os poros do meu corpo. Até meus olhos, senti, mais injetados. O sangue, fervendo nas veias. Euforia, raiva, orgulho. Olhar belicoso, o suco gástrico percorrendo meu interior, a boca salivando. Uma adrenalina que me coloca em estado de alerta. Mas não há perigos no horizonte, nem mesmo uma única nuvem negra que eu possa imputar suspeita. A tempestade que se avizinha é dentro de mim.
Emoções alheias as vezes são mais fáceis de decifrar do que as próprias. Consigo tão bem quanto qualquer um identificar desgosto, felicidade, agonia, frustração, alegria, dor de barriga ou um sorriso amarelado (de educação?) de alguém que não me quer presente ali.
Não pise no meu calo, não me feche no cruzamento, não bata a porta na minha cara, não desligue o telefone sem me dar 'tchau', não me ignore. Copérnico, aquele velho malandro, há muito tempo atrás sacou que não somos o centro do universo, mas ainda conheço muita gente que se acha mais resplandecente que o próprio sol - e coitado daquele que se interpuser em seu caminho, ou algo que nosso pequeno 'astro-rei' assim entender.
E depois, passado o momento, a cabeça volta para o lugar, e aqueles segundos (ou minutos) fora de mim não se assentam. Estou inquieto e não me enquadro no cenário. E tudo que vivi, falei, gesticulei ou argumentei tenta em vão estabelecer uma diálogo com a minha razão, e essa, por sua vez, desiste e joga as mãos para o alto como quem diz "certo, eu me rendo".
E volto para cá, para o interior do meu ser. Para os meus minutos sossegados escrevendo e tentando refazer os passos. Seguir esse fio até a entrada do labirinto do meu Eu. Recordo a pequena sombra presa lá no centro da estrutura que me recuso a alimentar, e que algumas vezes me assusta por (ainda) existir. Por me lembrar que, sem a devida vigilância, posso mais uma vez ser refém do meu descontrole. Andando em círculos por causa de paixões.
Paixões vívidas, lembranças, verdadeiras e mal resolvidas.
Marcel
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