Hoje, ontem e amanhã
Enquanto escrevo a trilha sonora que embala minhas palavras é uma chuva leve que se derramou pela cidade. A noite chegou mais cedo e posso dizer que o clima é acolhedor.
Eu tenho ao meu lado uma caixa de uma conhecida marca de sebo de carneiro. Há algo de familiar na caixa. Eu olho para essa caixa diversas vezes enquanto passo pela mesa do escritório. Não sei dizer ao certo o porquê. Chuto que essa caixa verde me lembre a infância, algum remédio ou pomada que minha avó usava para aliviar as dores do tempo e da velhice. Talvez seja apenas nostalgia minha, já que olho (passo) os dias em busca de, e às vezes, encontrando, sinais. Quer sejam de conforto, quer sejam de confirmação.
Constato que os anos passam e a comida não tem mais o mesmo gosto. Mesmo o lento tamborilar da chuva não é tão acolhedor quanto nos meus tempos de criança. É claro, eu sei. Não são as coisas que mudam ao meu redor. A chuva continua sendo chuva, o remédio continua sendo remédio, a comida continua com o mesmo sabor. O que mudou foi dentro, foi em mim. Foram minhas percepções.
A medida que envelheço lido com novos desafios, me desfaço de velhas crenças e aceito (quando aceito) o inesperado e o inusitado com assombro, me afastando de grandes expectativas. Tentando extrair do hoje, não com olhos nostálgicos imaginando, ansiando, por experiências fantásticas que vão me virar do avesso, e sim aceitando o mundano. Descobrindo no hoje um momento ímpar. Estando presente, sem projetar grandes amanhãs, apenas vivendo o agora.
Apenas, e apenas, apreciando o barulho da chuva sobre minha cabeça...
Marcel
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