Videogame
Dia 29 de setembro de 2023. Noite. Liguei meu velho videogame. Remoer ideias o dia inteiro me cansou. Remover a poeira de velhas conversas não era minha perspectiva. Eu precisava de tempo, espaço, e algum momento desligado dos outros, e até de mim mesmo. Relaxar a cabeça. Um pequeno instante de fuga, longe das razões que me tiraram do eixo.
Eu precisava de meia hora com meu personagem passando por poços com estacas e espinhos, pular na cabeça de tartarugas assassinas ou me livrar de plantas carnívoras famintas - que nutrem uma paixão pela minha figura na tela ao qual não desejo corresponder. Esses minutos a sós, pontilhado de barulhos estranhos e uma trilha sonora que remete a uma floresta, são o momento ideal para fugir de lições de moral, e alguns diálogos imaginários. Conclusões, novas conclusões, antigas conclusões, ou mesmo um texto para postar no blog. Não existe papel triste ou caneta esferográfica sem uso aqui próxima a mim. Os textos (as reflexões) surgem aos montes.
Uma fase (do jogo) se mostrou mais difícil que eu imaginei. No começo, pular não exigia tanto, os inimigos estavam mais dispersos, as plataformas não eram escorregadias. Aos poucos, o que era um momento de relaxamento, foi se tornando desafiante. Falhei uma, duas, seis, perdi a conta das vezes que comecei e (re)comecei a mesma fase.
Algumas vezes avançando um pouco mais, em outras caindo no primeiro buraco. A animação do meu personagem subindo a tela em forma de "anjo" se despedindo de mim, se repetiu algumas dúzias de vezes e muitas mais. Eu já estava chegando no ponto da irritação, que é bem próximo do momento em que percebo que 25 minutos se passaram. Vinte e cinco dos 30 minutos que me permiti relaxar. Vinte e cinco!
Esse escorregar, me frustar, antever adversários, desviar dos perigos, resumem bem o quê um jogo eletrônico pode proporcionar. E o mais engraçado de tudo isso é que conheço esse jogo muito bem. Eu o conheço há 25 anos, pelos menos, e somente agora estou me dando a chance de experimentar. Foram muitos adiamentos, e muitas desculpas. Os desafios são os mesmos de duas décadas atrás. Os gráficos foram melhorados. Há um variedade de vídeos no youtube que me ensinam essa ou aquela técnica para superar os obstáculos nas numerosas fases que ainda vão consumir horas e horas da minha paciência obstinada.
Existe algo de pedagógico nesse muito errar e perder. Eu perco (mais) uma vez, e tento novamente. Lembro que falhei naquele ponto em algum instante. Aguardo, faço o caminho que já conheço e dou uma nova resposta para aquilo que antes me derrubou. Espero, percebo, me adianto, faço ou deixo de fazer algo em outro ponto da jornada. Um passo de cada vez, uma situação por vez, avanço e avanço, e vou chegando cada vez mais longe.
O alarme me desperta
Quem diria que a vida se parece tanto com uma fase de videogame, não é mesmo?
Marcel
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