Sobre o que é
Hoje provavelmente é um dos dias mais desanimadores que já tive no trabalho.
Ler em linhas resumidas que nada daquilo que me esforcei, gastei tempo, energia e envolvimento pessoal não vale nada, nem mesmo uma nota no rodapé, foi provavelmente um dos momentos mais baixos que tive no meu trabalho. Depois disso, me desconectei. Peguei a chave do carro. Desliguei o computador. Me despedi dos colegas. Saí pela porta sem saber se quero voltar. Espero que alguém apague a luz.
Não estou no trabalho pela fama, pela glória ou pelo palco. Não estou esperando uma portaria de elogio, ou o nome idiota que seja. Nem sei se estou por causa do salário. Tenho responsabilidades para pagar e só. Vou religiosamente ao serviço e acho o ambiente agradável. Acho até, ou pelo menos achava, que gosto do que faço. Não posso dizer que me sinto realizado, porque não sinto, e não sei mais mentir para mim mesmo sem sentir o peso das consequências. Gosto de resolver os problemas que chegam até mim.
Após o dia de hoje, e ler o que li, penso apenas em entregar a função para o meu chefe, ao final de período, dando o meu melhor, sem tentar absorver, se é que isso é possível. Estou tentando não ser pessoal. Tentando não levar para o pessoal. Como isso é possível? Hoje falhei miseravelmente. Bateu até vontade de chorar. Senti um desânimo tão grande. Só tive vontade de me esconder. De tudo: do trabalho, da família, das redes sociais e de qualquer coisa que exigisse de mim mais do que um simples e falso sorriso amarelado.
Ler aquelas linhas sugou minhas energias. Olhei para a tela diversas vezes, ainda na esperança de ter entendido errado. Ou, quem sabe, tirar algo positivo de uma decisão imposta e direta dizendo: você e seu trabalho não importam. Senti que meu corpo ficou quebrantado. Minha alma, em pedaços. Algo na tarde de hoje se quebrou aqui dentro de mim. Torço muito para acordar amanhã com energias renovadas lembrando do bom e velho: “Nada como um dia após o outro…”
Será que apenas não estou trabalhando demais? Assumindo demais? Carregando demais? E agora o meu corpo está cansado dando sinais que eu preciso dar um pouco menos de mim para os outros e mais atenção para mim mesmo? Até quando vou insistir em enxugar gelo?
Talvez seja isso, talvez seja sobre o que é: eu olho e não enxergo sentido em continuar fazendo o que eu faço. Não consigo ver uma missão, um objetivo. Eu estou em um eterno apagar de incêndios. Correndo dentro da roda do hamster. E eu estou correndo nela há tantos anos. Dentro de uma jaula bonita, com grades mais bonitas ainda. É tudo muito bonito. Externamente eu olho e me agrado.
Mas hoje, olhei no espelho e não consegui ver sentido no que faço. Não consegui ver sentido dentro de mim. Não consegui enxergar nada além de uma jornada vazia de propósitos. Por uma razão muito simples: esse trabalho é só para pagar as contas. Eu não tenho satisfação pessoal.
E é só isso que consigo enxergar... Marcel
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