Percepções
Não havia estrelas
Os raios dourados que se partiam em feixes laranja-amarelados por trás das nuvens que antes se exibiam nas paredes, são apenas recordações. O manto negro da noite chegava aos poucos para encobrir o que ainda restava de uma tarde quente e muito úmida.
Acompanho tudo da minha janela: o lento escurecer, o acender das luzes dos postes, o calor da tarde ser aos poucos substituído pelo mormaço do começo da noite. Um vento acolhedor sopra lateralmente e percorre a rua, quase como a comprimentar todos, anunciando chuva.
Chuva? Já?
Era o anúncio que se lia no horizonte
Tempestades borrando a linha do céu e da terra
Mais ao oeste, relâmpagos explodindo dentro de grandes nuvens escuras.
Alguns vizinhos conversam na porta de casa
Uns bem dizendo a chuva que chega sem ser convidada
Outros encaram o céu negro com desconfiança.
O vento ganha força. Portas batem em resposta
Um gato mia, uma panela vai ao chão em alguma cozinha
Um copo quebrado? Talvez
Sônia chama seus filhos brincando na rua para entrar
Eles poderiam ouvir esse chamado do outro lado da cidade
Meu amigo Cássio se queixa gritando da porta da sua casa que hoje, dia de futebol na tv, com aquele tempo, ele perderia o jogo do seu time
E o rádio, perguntei daqui. Tá sem pilha, o ouvi responder.
Ecos de água nos telhados se aproximando
Outro trovão
Mais barulhos urbanos
De olhos vendados se sente a chuva e suas mudanças
Devo fechar essa ou aquela janela?
O cheiro da recém-chegada me inundando.
Os primeiros pingos em mim
Fecho minhas janelas, mas não encerro minhas percepções.
Corro, sigo e fecho minhas janelas
Feliz por estar vivo…
Marcel
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