Mergulho

 O significado de cair em mim



Tempos atrás eu comecei esse exercício (salutar): escrever algumas linhas em um horário definido do dia. A prática é em um caderno uma matéria de 80 folhas pautado,com uma capa bem adolescente, cores berrantes e - de praxe - uma folha de adesivos irados com diversos dizeres em inglês como “fast”, “race”, “car”, etc.


Ele não tem nenhuma marcação especial nem folhas diferenciadas. Assim como meus pensamentos. São apenas palavras escritas por uma caneta bic preta e que podem preencher uma, duas ou até 3 folhas de uma só vez - depende muito da minha disposição e do meu cansaço.


Faço o meu ritual diário com alguma rigidez e método. Enquanto escrevo, duas coisas acontecem simultaneamente: o navegador está no youtube tocando alguma música relaxante com som de pássaros, ou com o correr de águas em uma cachoeira, rio; e, o cronômetro do celular está na regressiva. Procuro dedicar 15, 20 minutos para essa prática diária.


“É um bálsamo” como certa vez confessei a um amigo de longa data. Tirar os pensamentos da cabeça usando uma caneta e colocando em papel tem se mostrado para mim o melhor dos remédios em 40 anos de vida. Foi a forma que encontrei para esvaziar a mente e organizar melhor as ideias.


A regra principal, que tem funcionado para mim, é escrever sobre qualquer coisa que vier à cabeça. O plano é não ter plano nenhum. Às vezes o esboço de uma ideia, uma reflexão me acompanha do amanhecer ao anoitecer, e no dia seguinte começo a escrever sobre um assunto totalmente diferente. Sim, eu também acho hilário.


A verdade é que nosso cérebro funciona muito mais rápido do que podemos processar. E hoje, com o acesso a tanta informação, não é incomum um amigo ou conhecido confessar um cansaço mental, dificuldade de absorver o que está acontecendo no mundo, ou mesmo confusão.


Foi pensando nessa confusão (como uma vez me alertou uma amiga) que entendi que cabia a mim mergulhar mais fundo nas minhas experiências passadas, minhas certezas (ah e eu era recheado desses conceitos prontos, em várias camadas), episódios da vida que precisava rever e examinar com mais atenção. Foi partindo da superfície que todos conhecem para fazer um mergulho profundo em mim mesmo e nas minhas percepções.


Eu já escrevi poesias, fiz quadrinho experimental, blog de jogos antigos, blog sobre religião evangélica e, atualmente, mantenho uma linha direta no whats com o pessoal do meu trabalho com diversas piadas e sarcasmo ácido para ninguém perder um prazo ou evento importante. Naveguei tantos anos pelas letras com essa fome de explorar esse meu lado ‘escritor’, na falta de uma palavra melhor, para hoje, em pleno 2023, me sentir confortável em escrever sobre mim mesmo e sobre como explorar minhas emoções. E de brinde, descobrir esse como o momento mais prazeroso do meu dia.


E foi assim que eu entendi que derramar palavras em um papel foi a melhor escolha que já fiz.




Marcel

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