Marcas do tempo
De quanto tempo mais você precisa?
Hoje me olhei no espelho. Passei a mão sobre a minha barba e fiquei tentando alinhar um outro fio fora do lugar. Um fio branco ali e acolá. Uma espinha fora de hora. A iluminação não ajudava naquela hora da manhã, mas eu não me importei. Eu queria mesmo olhar para mim e notar qualquer pequena diferença que fosse. Mais um dia de vida, mais um dia para comemorar.
Procurei por marcas deixadas pelo tempo. Um sinal de catapora, uma mancha de pele, um cravo não expulso. Procurei várias e ao mesmo tempo me perdi em pensamentos sobre o que exatamente eu estava buscado. Me perdi alguns minutos em pé em frente ao espelho divagando sobre como nada daquilo é de fato importante para mim: beleza, vaidade, ego, palco, sinais.
Olhei para o meu rosto e tentei delinear alguma marca do tempo que há muito não noto. Busquei meu nariz, minha boca, minha sobrancelha que agora é rebelde e teima em ficar fora do lugar e encarei meus olhos. Olhei bem fundo e mergulhei neles. Sim, meus olhos. As testemunhas das mudanças imperceptíveis pelas quais somente eu sei que passei. As mudanças que os dias me impuseram. As mudanças e as consequências que se manifestaram em mim.
Não preciso encontrar linhas escritas no meu rosto para relembrar o que superei. As rejeições que sofri, o olhar gelado de alguns, a raiva de outros que sequer conheci. Meus olhos testemunharam injustiças, mentiras, traições, vinganças, desprezos. Ah, mas sim… Eu tive tempo, nesse pouco de vida que tive até aqui, de testemunhar o amor verdadeiro.
Percebi que não preciso de nenhuma marca do tempo ou de eventos passados estampada no rosto pra me lembrar do que foi ruim. Para mim basta entender que o tempo, e o caminhar dos dias, se encarregaram de me mostrar que além da beleza estética de um reflexo estático em um espelho, há muito mais beleza real no apreciar das mudanças.
Tão necessárias quanto o passar das horas…
Comentários
Postar um comentário